segunda-feira, 23 de junho de 2008

Dia 9, Serpa - Ourique, 104 km



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Tentou-se sair cedo mas mais uma vez houve atrasos. O que deixava sempre o Miguel visivelmente irritado. Ele tinha razão, havia sempre um aventureiro que se atrasava pela manhã. O pequeno-almoço estava de comer e chorar por mais, foi do tipo buffet, com uma qualidade bastante boa e enorme variedade de oferta. Se não fosse o Miranda a impor as regras militares alguns dos aventureiros tinham demorado bem mais tempo a tomar o pequeno-almoço. A Sra. da residencial Serpinia foi super prestável, estava sempre disponível para ajudar, disponibilizou serviço de secagem da roupa e ainda deu umas dicas relativamente aos caminhos que se deviam seguir. Na zona do Alqueva, o GPS não teve grande utilidade por que os tracks que estavam carregados já tinham alguns anos e não previam as inundações provocadas pelo enchimento da barragem, por isso recorreu-se a informações prestadas por pessoas da zona. Iniciou-se o dia a seguir a direcção apontada pela Sra. da residencial mas mal se cruzou o trilho optou-se por seguir por ele. Ao tomar essa opção estava-se a entrar para um beco sem saída mas lá se foi no pleno convencimento que era a melhor decisão. Seguiu-se por um sobe e desce constante a provar que o Alentejo não é assim tão plano como usualmente se costuma pensar. Encontraram-se uns rafeiros Alentejanos que deixaram bem claro o seu desagrado por verem ali um grupo nada usual de ciclistas. Aqueles dentes afiados, sabe-se agora, eram a forma mais simpática de eles avisarem que o caminho não era por ali. Um pouco mais à frente, foi a vez de uns patos domésticos acharem a nossa presença, por aquelas paragens, bastante estranha e puseram-se a voar, o que podia ter dado em tragédia, um deles ainda se estatelou contra uma vedação. Estava-se nitidamente a seguir pelo caminho errado, toda a bicharada parecia perceber isso mas nós lá íamos a seguir o trilho. O erro só ficou bem perceptível quando se deu de caras com um rio de caudal e correntes intransponíveis, nem dava para acreditar. Nesse momento a moral dos aventureiros baixou um número de pontos bastante significativos. Era novamente o Guadiana que naquela zona serpenteia pelo Alentejo. Após se ter tomado conta da realidade havia que desfazer os últimos mais de 8 kms e mais difícil do que isso, voltar a enfrentar os tão pouco simpáticos cães. Lá se reentrou novamente na estrada de alcatrão mas voltou-se a falhar o cruzamento em direcção a Quintos. A aventura é aventura, não se ia voltar novamente para trás. Atalhou-se logo ali, no sítio onde se identificou o erro, por meio de um olival, e até correu bem, nada de cães raivosos, nem de outro tipo de animais antipáticos e nem sequer se tiveram de transpor vedações. Percorreram-se vários kms por estradões em direcção a Quintos, onde se voltou a encontrar o trilho. Mais uma vez decidiu-se seguir por ele, até que este nos encaminhou para um portão de entrada numa herdade. Inicialmente o portão aparentava estar fechado mas o Miguel verificou que estava apenas no trinco. Entrou-se por ali a dentro, até que um empregado da herdade nos abordou e perguntou onde pretendíamos ir. Após se explicar a nossa aventura mas que naquele instante se estava um pouco perdido, o Sr. explicou que o caminho antigo que estávamos a seguir já não existia, tinha sido destruído há cerca de 2 anos pelo seu patrão para dar lugar a um olival e que tínhamos obrigatoriamente de seguir por estrada. Encheram-nos os bidões com água e explicaram-nos por onde tínhamos de seguir. Nesse dia ficou decidido não arriscar mais a seguir o trilho, os GPS’s foram desligados e seguiu-se por estrada em direcção a Ourique, umas vezes pelo IP2 outras vezes pela estrada antiga paralela ao IP2. Eram rectas a perder de vista e estava um calor abrasador. Atingida a hora de almoço, decidiu-se parar para almoçar debaixo de um chaparro, ainda mal se estava instalado, apareceu um alentejano a dizer ser o dono do chaparro e a advertir para não se fumar ali. Explicou-se-lhe que ninguém do grupo fumava, ofereceu-se-lhe do almoço mas ele não aceitou, disse que ia tratar de fazer o mesmo e seguiu viagem. Após o almoço, cada um socorrendo-se da palha que por ali havia resultante da ceifa do trigo, arranjou uma cama para dormir a tão típica sesta à sombra do chaparro. Depois de restabelecidas as forças continuou-se estrada fora em direcção a Castro Verde. Chegado lá, o Miranda achou melhor tentar encontrar uma oficina de bicicletas para comprar câmaras-de-ar. Entrou no primeiro café que viu para pedir informações e veio de lá com um Sr. que se prontificou a ir servir de guia até à oficina. Por momentos teve-se direito a carro batedor. Foi uma entrada em grande em Castro Verde, algo veloz, foi preciso pedalar com força para o conseguir acompanhar. Enquanto se esperava que o Miranda trocasse algumas impressões técnicas sobre as mais recentes tecnologias de bicicletas, o Sérgio foi à padaria comprar línguas da sogra. Os bolos foram devorados e o Miranda continuava à conversa, o Sr. da oficina estava a aproveitar para se actualizar e dizer-se desgostoso por só ter vendido uma vez uns travões de disco. Obviamente não tinha câmaras-de-ar de gel, apenas foi possível arranjar câmaras normais. Foi preciso dizer ao Miranda que já ia sendo tempo de ir embora, estava a fazer-se tarde. Lá se seguiu viagem sempre pela estrada paralela ao IP2, mesmo esta a dada altura tendo um sinal a proibir qualquer trânsito para além de veículos da Brisa. Em resultado dessa teimosia acabou por ter de se voltar para trás, a estrada era o acesso às portagens da Brisa. Não foi nada que não tivesse já acontecido naquele dia, ninguém ficou chateado, seguiram-se as instruções dadas pela Sra. da Brisa e lá se chegou a Ourique ao fim do dia. Ao que se seguiu a rotina diária, ida às compras de supermercado, limpeza das bicicletas, banho, limpeza da roupa, jantar e ir dormir.

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